sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Músicas que Elevam o Espírito - 21Jan2011

Pessoal, bom dia.
Como a maioria de vocês já sabem, hoje é o meu último dia de trabalho na  Ford, como funcionário da MSX. Gostaria de agradecer aos muitos amigos que fiz durante estes três anos de batalha. Aliás, eu fiz muitos mais amigos do que poderia imaginar quando vim para a Bahia. Por isso, gostaria de trazer hoje, como uma homenagem aos amigos que fiz durante essa minha ainda curta caminhada pelo nosso planetinha azul, o nosso Maior Maestro Heitor Villa-lobos.
Heitor Villa-Lobos
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, no dia 05 de março de 1887, dois anos antes da proclamação da República. O pai, Raul Villa-Lobos, amante da música clássica e violoncelista de mediana habilidade, percebeu desde cedo o dom espantoso daquela criança superdotada. Por isso, ensinou o pequeno Heitor os caminhos da percepção musical com uma severidade incomum, além de impor uma rígida disciplina para o estudo do violoncelo principalmente, e da Clarineta. O próprio Villa-Lobos escreveu sobre o pai: “Meu pai obrigava-me a declarar com presteza o nome da nota dos sons, dos ruídos que surgiam incidentalmente no momento. Como por exemplo, o guincho da roda do bonde ou o pio de um pássaro, ou a queda ocasional de um objeto de metal, etc. Isso tudo com uma rígida e enérgica seriedade absoluta. E ai de mim se não acertasse...”

Raul Villa-Lobos, pai do Maestro
  Não se pode precisar, quando foi que o pequeno Tuhú – apelido de infância dado por causa do som do apito do trem que ele gostava de imitar, se apaixonou pelo violão. Se este fato aconteceu nas viagens da família pelo interior de Minas e do Rio de Janeiro, ou se foi no contato com os chorões do Rio de Janeiro. Em seu livro, Carvalho escreveu sobre o menino Heitor: ”Seus tempos de criança? Sim, fora difícil estudar violão: enchia a boca do instrumento com pano, para poder fazer técnica; amarrava o instrumento no estrado da cama, para que D. Noêmia não o quebrasse; e, de noite, saía sorrateiramente pela janela, carregando o instrumento, para juntar-se aos chorões boêmios.” Mas sem dúvida nenhuma, podemos afirmar que a obra de Villa-Lobos para violão, apesar de pequena, é de extrema importância. Ela é até hoje objeto de estudo nos conservatórios de música ao redor do mundo e parte do repertório de grandes violonistas internacionais.
É praticamente impossível separar o homem Heitor Villa-Lobos do mito e lendas em torno do Maestro. E, diga-se de passagem, mitos e lendas que o próprio Villa-Lobos criou. Histórias fantasiosas, quase mágicas, circundam o maestro. Como por exemplo, quando de sua viagem na Amazônia, navegando pelo rio Amazonas, após um naufrágio ele foi feito prisioneiro por uma tribo de índios canibais, que só o soltaram depois que ele lhes mostrou alguma de suas composições. Ou ainda, quando o jovem músico Antônio Carlos Jobim visitou o Villa-Lobos (este fato é verdade!), em 1956, na casa do maestro. Tom se deparou com um cenário assustador. Viu uma soprano no canto da sala colocando os pulmões para fora, o rádio ligado no outro lado, pessoas conversando do outro, e Villa-Lobos no meio disso tudo, compondo.  Assustando com aquele cenário caótico, o jovem Tom perguntou: ”Maestro, como o senhor consegue compor no meio desse barulho?” Villa-Lobos respondeu: ”Meu filho, o ouvido de fora nada tem a ver com o de dentro.”
Villa-Lobos regendo.

Assim como Santos Dumont, Villa-Lobos adotou Paris como sua segunda cidade. Ele esteve nela em duas oportunidades, entre 1923-24 e entre 1927-29, sob o patrocínio da família Guinle. O fato de Villa-Lobos ter fomentado essas histórias fantasiosas sobre ele, de certa forma o ajudou a se promover em Paris, quando os parisienses lotaram o teatro no seu primeiro concerto para “ver o índio de casaca, saído diretamente das selvas brasileiras.” Como uma espécie de Romário da época, Villa-Lobos declarou, em 1923, quando chegou a Paris: “Eu não vim para aprender, mas para mostrar o que fiz.” Em 1924, Manuel Bandeira celebra a volta do maestro dizendo:” Villa-Lobos acaba de chegar de Paris. Quem chega de Paris espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto, Villa-Lobos chegou cheio de Villa-Lobos.”
Heitor Villa-Lobos foi um brasileiro de ações grandiosas. Compôs mais de 2000 peças, para vários instrumentos e formações de orquestras e corais diferentes, em diversos gêneros musicais: óperas, sinfonias, concertos, música de câmara, etc. Isso o eleva, sem dúvida nenhuma, ao posto de compositor mais importante do mundo no século XX (minha humilde opinião...hehehe). Em 1931, fez em São Paulo a Exortação Cívica, com um coral de 12 mil vozes. Em 1940, colocou 40 mil crianças cantando a quatro vozes, no estádio de São Januário do clube Vasco da Gama, o Hino Nacional para o então presidente Getúlio Vargas. Ele também foi o fundador da Acadêmia Brasileira de Música.
Para entender a música de Villa-Lobos é preciso mais do que ouvi-la, é preciso degustá-la. Enamorar-se da música de Villa-Lobos é enamorar-se do Brasil. Não só o Brasil do litoral, do Rio de Janeiro, do centro nervoso de São Paulo, mas especificamente o Brasil do interior, das florestas, dos rios, do matuto e do caboclo, das brincadeiras infantis de ciranda-de-roda. ”É de consenso geral que Villa-Lobos é o maior compositor que o Brasil já teve. Pode-se dizer que Villa-Lobos e Brasil são quase sinônimos.” (depoimento de Manuel Bandeira). O próprio Villa-Lobos se definiu da seguinte maneira: “Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os marés deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que transporto instintivamente para tudo que escrevo.”  
Heitor Villa-Lobos, um brasileiro
Por tudo isso, senhores, gostaria de dedicar a Toccata da Bachianas Brasileiras nº 2 O Trenzinho do Caipira (para os íntimos...Hehehehe). Preferi postar a versão de Edu Lobo, ao invés da versão para orquestra, com a belíssima letra de Ferreira Gullar: http://www.youtube.com/watch?v=coJjqZCDrw0